LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

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A Ilha da Madeira, território português, situada no Oceano Atlântico, localiza-se a cerca de 900 Km a Sudoeste de Lisboa, e a 600 Km a oeste da costa norte africana.

Com uma superfície de aproximadamente 735 Km2, a Ilha da Madeira é a maior e mais importante do arquipélago com o mesmo nome (Madeira, Porto Santo, Selvagens e Desertas), tendo 57km de comprimentos e 23km de largura.

HISTÓRIA

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DESCOBRIMENTO OU REDESCOBERTA?
 
A referência ao Arquipélago da Madeira num manuscrito (Libro del conoscimiento de todos los Reynos) e a sua representação em mapas italianos e catalães de meados do século XIV, tornam falsa a tese do descobrimento no início do século XV, por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira.

Apesar da existência documental torna-se difícil apurar a data do achamento e a origem do descobridor. A sua indicação geográfica já aparece em 1399 na Carta de Dulcert, em 1351 no Atlas Mediceo e noutros documentos náuticos dos séculos XIV e XV.
Nos documentos do século XIV as ilhas do Arquipélago da Madeira têm nos mapas italianos os nomes actuais: Legname, Santo Christi e Deserte e nos mapas espanhóis Leiname, Puerto Santo e Disierta.

É possível que já tivessem sido visitadas no reinado de D. Afonso IV por uma das expedições luso-genovesas que se dirigiam às Canárias.

A versão mais corrente dos factos que originaram a redescoberta oudescoberta oficial do Arquipélago da Madeira refere que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, instruídos pelo Infante D. Henrique para explorar a costa oeste africana, desembarcaram em 1419, após terem sido desviados da sua rota inicial, primeiro na ilha do Porto Santo e posteriormente até à outra ilha, que, envolta em denso nevoeiro, do Porto Santo se avistava – a Madeira.

Tendo reconhecido a importância da ilha, sobretudo no apoio à navegação naquela zona, regressaram a Portugal e propuseram ao Infante o seu reconhecimento e povoamento no ano seguinte.

A inclusão do Arquipélago da Madeira em manuscritos e sua inclusão em cartas e portulanos do século XIV não nos permite acreditar que o seu achamento fosse obra do acaso. No entanto, e apesar do mistério que sempre o envolverá, é inegável a importância deste feito na história dos Descobrimentos Portugueses.

CLIMA

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A Ilha da Madeira está sujeita aos ventos alísios – ventos tropicais provenientes da cintura subtropical de altas pressões que sopram com desvio para O desde NE – que atingem o território durante a maior parte do ano. Esta influência, a sua situação geográfica e as particularidades morfológicas próprias da ilha, fazem com que as condições climatéricas da vertente norte e sul difiram bastante entre si.
A influência da orografia determina a existência de microclimas. A existência de uma cordilheira central de elevada altitude determina uma vertente sul soalheira e protegida da acção dos ventos predominantemente húmidos e uma vertente norte menos exposta aos raios solares.

O clima é temperado com características oceânicas, verificando-se uma variação de temperatura, humidade e pluviosidade, consoante a altitude. À mesma altitude mas a norte, o clima é sempre mais chuvoso e caracteriza-se por temperaturas mais baixas.

A ocorrência de nevoeiros é permanente, a uma altitude variável, cujo limite inferior se observa a cerca de 500 metros durante o Inverno e um pouco mais acima durante o Verão.

O clima é portanto mesotérmico com chuvas e sem quedas regulares de neve. Na maior parte da ilha o verão é pouco quente mas longo e numa estreita faixa da costa sul é quente e longo.

A temperatura média anual aumenta nas regiões planálticas e nos picos do centro interior da ilha, de valores próximo dos 9ºC, até valores acima dos 17,5ºC no litoral. A temperatura média do mês mais quente (Agosto) é de cerca de 22ºC, enquanto a do mês mais frio (Fevereiro) é da ordem dos 15ºC.

A amplitude térmica anual é relativamente baixa nas localidades do litoral. A temperatura média do mês mais quente é apenas cerca de 6ºC mais elevada que a do mês mais frio. Nas áreas montanhosas esta diferença é mais acentuada, oscilando entre os 9 e os 10ºC.

A humidade relativa anual varia de, cerca de 55% na costa, até aproximadamente 90% na zona dos nevoeiros; a partir daqui, para as altitudes elevadas, a humidade volta a ser menor, chegando a valores próximo dos 75%. O Funchal, capital da ilha, regista valores médios de 70%.

No que respeita à precipitação anual, verifica-se que aumenta com a altitude, desde cerca de 500mm na costa sul, ou 1.000 mm na costa norte, até um pouco acima dos 3.200mm nas zonas mais altas do interior.  

GEOMORFOLOGIA E HIDROGRAFIA

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A ilha da Madeira é de origem vulcânica, datando do período Miocénico da Era Cenozóica ou Terciária.

Do ponto de vista morfológico, pode considerar-se a existência de uma alta região central, fortemente marcada pela erosão onde podem ser distinguidos imponentes maciços montanhosos, cortados por vales profundos e desníveis de parede quase verticais.

Nas zonas altas são por vezes encontradas áreas planas, como é o caso do Paúl da Serra, Poiso e Santo da Serra.
Poderão distinguir-se superfícies subestruturais constituindo perfeitos planaltos denominados de “achadas”.

A estrutura montanhosa que forma a espinha dorsal da ilha da Madeira constitui uma barreira natural que a divide em duas metades, distando 8Km da costa norte e 14Km da costa sul.
Cerca de metade da área total da ilha situa-se acima dos 700 metros.
Aproximadamente 65% da superfície da ilha tem declives superiores a 25% e apenas 12% com declives inferiores a 16%.
Os pontos mais altos são o Pico do Arieiro e Pico Ruivo com 1.818 e 1.862 metros respectivamente.

Alguns dos maciços montanhosos estendem-se até o mar. Porém poderemos passar de uma região central mais elevada, para o litoral, através de vertentes mais ou menos íngremes, que podem ser denominadas por “lombos”, “lombinhos” e “lombadas”. As vertentes são profundamente entalhadas por vales com perfil torrencial, por onde correm os cursos de água que formam a rede de drenagem da ilha.

A costa da Ilha da Madeira é, tal como o resto da ilha, predominantemente alta e escarpada. O litoral norte desenvolve-se, quase sem excepção, em escarpas de grande imponência, chegando por vezes a atingir desníveis na ordem dos 500 / 600 metros.
Podem ainda ser encontrados pequenas planícies, resultantes da erosão por desmoronamento e que são designadas por “Fajãs”.

Nas zonas com declives compreendidos entre 16% e 25 %, que ocupam a maior parte da superfície arável da ilha, a agricultura só é possível devido a socalcos, artesanalmente construídos pelos habitantes da ilha, vulgarmente denominados por poios.

Como já foi dito, os numerosos cursos de água apresentam declives acentuados, caracterizando-se em geral por um regime não permanente.

No Inverno, como resultado de chuvas intensas, poderão apresentar caudais abundantes. No Verão, os cursos de água da vertente norte apresentam caudais baixos enquanto, os que correm para sul se encontram praticamente secos.

As nascentes, alimentadas pelas águas de infiltração localizam-se em maior número e com caudal mais regular, na parte norte da ilha.

SOLO

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Sob o ponto de vista geológico a ilha é predominantemente constituída por rochas eruptivas (rochas basálticas, gabros, rochas ácidas do tipo traquítico, essexitos e rochas afins), materiais piroclásticos (finos como tufos e cineritos, aparelhos vulcânicos, cones de escórias e grosseiros como blocos, bombas, brechas e aglomerados) e em extensões relativamente pequenas, por rochas sedimentares que ocorrem sobretudo ao longo da costa, nos vales e nas “Fajãs”.

Quanto à composição, o material originário dos solos predominantes na ilha, caracteriza-se por ser de natureza basáltica, variando com a altitude. Nas regiões de menor altitude predominam os terrenos derivados do basalto, compactos, de cor escura que indiciam a presença de quantidades consideráveis de ferro; nos pontos mais altos, derivam com frequência das traquites.

O processo erosivo, por acção directa ou indirecta do homem, faz-se sentir desde a sua chegada a ilha.
A erosão é um grave problema a que estão sujeitos os solos da Ilha da Madeira. Este fenómeno observa-se sobretudo nas zonas dos prados naturais, anteriormente muito submetidos a uma forte pressão de pastoreio e à prática corrente de queimadas. Estas acções associadas a elevada precipitação e ventos que se fazem sentir nas zonas mais altas, provocaram a redução rápida do coberto vegetal e consequente erosão dos solos.

O homem tem sido um protagonista activo na formação e evolução dos solos através da sua intervenção no próprio perfil pedológico, verificada sobretudo nos solos ocupados pelas diversas culturas agrícolas. De facto, para tornar os solos agricultáveis o homem viu-se obrigado a reduzir ou mesmo anular alguns dos grandes declives, nas áreas de encosta, através da construção dos terraços ou poios.

A movimentação de terras resultante da construção destes terraços, implicou a decapitação e soterramento de muitos pédones, bem como a mistura e uniformização de horizontes genéticos até certa profundidade. Além destes pédones parcialmente modificados, outros terão sofrido modificação em toda a sua espessura. Nalgumas situações, ter-se-á verificado a constituição de pédones totalmente artificiais, devido a deslocação de terras, de áreas vizinhas, para locais onde as formações rochosas afloravam ou se encontravam muito próximo da superfície.

A modificação morfológica dos solos fica ainda a dever-se a diversas técnicas de natureza cultural – aplicadas ao longo dos anos, nestas pequenas parcelas agrícolas – nomeadamente mobilizações, adubações, regas e outras práticas correntes.

Todo este conjunto de acções pode ter alterado profundamente o perfil do solo natural, afectando a sucessão dos horizontes originais, estrutura e algumas outras características secundárias.

Contudo estas acções não terão afectado de forma significativa, tanto a granulometria, como a composição mineralógica ou comportamento físico-químico destes solos.

Os solos da Ilha, de um modo geral, apresentam propriedades físicas muito apreciáveis e a sua fertilidade é notoriamente acrescida com a água de irrigação.

Os solos pobres, com falta de calcário e elementos nutritivos como o potássio e azoto, obrigam o homem a intervir no sentido de efectuar as correcções e fertilizações apropriadas ao solo e/ou às plantas, nomeadamente calagens e adubações, para a obtenção de produções de qualidade superior.

Os solos apresentam predominantemente reacção ácida ou muito ácida, pelo que se torna necessário fazer correcções – calagens – através do uso de produtos alcalinos. Esta prática leva a que o valor do pH se situe próximo dos níveis óptimos ao desenvolvimento da vinha, ou seja perto da neutralidade.
Os níveis de matéria orgânica são normalmente médios ou baixos pelo que é necessário efectuar correcções orgânicas de manutenção. O ferro e fósforo encontram-se normalmente em quantidades suficientes.

VEGETAÇÃO

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O povoamento do território, muitas vezes intenso e desordenado, fez com que a vegetação natural da Ilha da Madeira fosse profundamente marcada pela acção humana.

O recurso à prática corrente do fogo (queimadas), a pastorícia e o corte de árvores e arbustos, foram os factores essências que fizeram condicionar a natureza, ao quotidiano do homem.

De facto, muitas áreas florestais foram derrubadas com o objectivo de obter lenha para os engenhos de açúcar ou para extracção de madeiras de boa qualidade. Na vegetação actual da ilha, destacam-se predominantemente culturas agrícolas, espécies florestais, mato de espécies autóctones e prados naturais.

As áreas com formações vegetais indígenas ou florestas originais, incluídas na flora Macaronésica (espécies oriundas da Madeira, Selvagens, Açores, Canárias e Cabo Verde) são actualmente pouco extensas ou reduzidas.
Numa faixa compreendida entre os 600 e os 1.300 metros, zona onde se verificam os mais altos valores de humidade relativa, ainda restam alguns belos núcleos da floresta higrófila primitiva - Laurissilva - que incluem exemplares de til, vinhático, loureiros, folhados e cedros. A maior parte da área anteriormente ocupada pela Laurissilva, encontra-se hoje repleta por eucaliptos, acácias e pinheiros que encontraram aqui condições propícias ao rápido crescimento e propagação. Este facto provoca, no entanto, problemas de funcionamento dos sistemas naturais pelo seu carácter invasor.

Nos picos mais altos o coberto vegetal é mais pobre, porém a urze molar, a uveira da serra e a sorveira conseguem resistir às condições mais agrestes - frio, neve e ventos fortes.

A área agrícola desenvolve-se sobretudo abaixo dos 600 metros, em explorações de pequena dimensão, em terrenos de declive variável, geralmente armados em socalcos artificias, denominados por poios.

A agricultura baseia-se fundamentalmente na cultura da banana, cana-de-açúcar, vinha, árvores de frutos tropicais (abacateiro, anoneira, mangueira), árvores de fruto de regiões temperadas (castanheiro, figueira, nespereira, nogueira, cerejeira, macieira, pereira, laranjeira, limoeiro, etc.), cereais (milho e trigo) e hortícolas diversas (batata, batata-doce, fava, couves, feijão, inhame, tremoço e outras culturas de subsistência).

Com excepção da bananeira e cana-de-açúcar que são monoculturas, as demais, incluindo-se a própria vinha, cultivam-se em geralmente associadas a outra cultura num sistema típico de policultura intensiva.

VITICULTURA

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Tendo em conta as características orográficas da Ilha da Madeira, é notória a dificuldade com que os agricultores se deparam para proceder ao cultivo das terras, mormente à cultura da vinha.
Quase todos os vinhedos da ilha são plantados em minúsculos terraços denominados poios, escorados pelo vermelho ou cinzento basalto das paredes que os suportam.
As latadas madeirenses são uma obra-prima da viticultura madeirense que resultam num magnífico e inigualável espectáculo paisagístico.

É principalmente nos socalcos das encostas soalheiras da vertente sul da ilha, mais concretamente nos terrenos situados entre os 350 e 750 metros de altitude, que a vinha tem as melhores condições para se desenvolver.

TIPOS DE CONDUÇÃO

Noutros tempos, no norte da ilha, as vinhas dispunham-se em balseiras, método que consistia em sustentar a vinha sobre árvores dispostas para esse fim, crescendo em altura ou à vontade por cima de rochas ou pelo chão.
Neste tipo de condução, apesar de a produção ser abundante, as uvas raramente atingiam a completa maturação devido a, normalmente, não se efectuar a poda nas árvores tutoras – principalmente castanheiro, carvalho, faia e loureiro –, o que originava deficiente exposição solar. Devido às difíceis condições de acesso à vinha (por se encontrar muito alta), o agricultor deparava-se com várias dificuldades: Proceder à poda; tratamento contra o oídio; e colheita das uvas.
Pelas dificuldades atrás enumeradas e a destruição das árvores tutoras, pelo oídio, ficou facilitada a tendência para a mudança de condução. As vinhas plantadas de novo seguiram o modelo de latada, praticado no lado sul da ilha.

No Norte da ilha, uma das características das latadas é a necessidade de construir sebes ou bardos para proteger as vinhas do vento e da ressalga. Para este fim utiliza-se a urze, tal como se pode verificar no litoral norte, particularmente entre o Seixal e a Ribeira da Janela.

No sul as latadas e os corredores predominam, ainda que com a desvantagem de não existir espaço – entre o solo e a vinha – para o trabalho da monda, poda, aramação da vinha, desparra ou mesmo para a vindima.
Na Ilha da Madeira, maior parte das vinhas são plantadas em baixas latadas semelhantes a região dos vinhos verdes no continente português, onde é elevado por estacas e aramadas acima do solo.

No Porto Santo, devido às condições geológicas e climatéricas, o terreno agrícola vitícola resume-se a zonas do litoral, dominando a vinha em pé.

Actualmente verifica-se uma mudança na paisagem vitivinícola da ilha, isto porque começam a aparecer novas parcelas de vinhas, conduzidas no sistema de espaldeira.

Esforços estão a ser feitos para a reconversão das vinhas na Madeira, no sentido de reconstituir o panorama vitícola anterior ao oídio e à filoxera. A reestruturação da vinha na região é uma realidade actual mas o seu êxito dependerá também, da política adoptada pelo sector de produção e da exportação de vinho.